quarta-feira, 13 de abril de 2011

Problemas Ambientais Urbanos - A Questão da Violencia e do Preconceito

Sobre o Islã

André Hees

12/04/2011 - 22h29 - Atualizado em 12/04/2011 - 22h29
A Gazeta
A tragédia em Realengo causou grande comoção em todo o país e, estranhamente, abriu margens para teorias conspiratórias, alimentadas por blogueiros oficiais: a imprensa golpista, alinhada ao imperialismo ianque, estaria forçando a barra para associar a ação insana do atirador Wellington Menezes de Oliveira ao terrorismo islâmico.
A imprensa noticiou efetivamente que uma das linhas de investigação da polícia do Rio é uma possível ligação com um grupo extremista, já que o atirador demonstrava obsessão por atentados como o 11 de Setembro, dizia ler o Alcorão e mencionava um amigo chamado "Abdul". Mas, como mostrou a reportagem exibida pelo "Fantástico" no domingo passado, a própria polícia trabalha com a possibilidade de as informações nos textos de Wellington serem somente delírios decorrentes de problemas mentais, o que, ao que tudo indica, é o mais provável.

De todo modo, o islamismo não tem nada a ver com a atuação de grupos extremistas como a Al Qaeda. Ali Kamel, diretor de Jornalismo da Globo, que é descendente de sírios muçulmanos, escreveu um livro, "Sobre o Islã - A Afinidade entre Muçulmanos, Judeus e Cristãos e as Origens do Terrorismo" (Nova Fronteira, 2007, 320 páginas), e produziu uma série de reportagens para o jornal "O Globo", publicadas em abril de 2004, em que se dedica justamente a mostrar como a atuação dos terroristas islâmicos representa, na verdade, uma distorção da verdadeira mensagem de Maomé - que também é de respeito ao próximo, caridade e tolerância.

O Alcorão reconhece Jesus como um profeta enviado de Deus e tem pontos de convergência com a Bíblia dos cristãos e com o livro sagrado dos judeus, a Torá. O terrorismo islâmico, contudo, é um desvio da mensagem de Maomé e tem embasamento teórico na chamada Irmandade Muçulmana, movimento radical fundado no Egito em 1928.

Essa Irmandade, por sua vez, é inspirada no chamado "wahhabismo", um movimento radical sunita que surgiu na Arábia no século 18, que condena o álcool, o fumo, a música e a dança, e relega a mulher a segundo plano. A Irmandade Muçulmana, a partir dos anos 50, sob a influência do ideólogo Sayyid Qutb (pronuncia-se "Kuh-tub", segundo Ali Kamel), passou a defender a conversão de todo o mundo ao Islã, sem exceção, com o combate aos que se opuserem a essa universalização. Essa é a inspiração da guerra santa e dos ataques suicidas. A morte em combate é a glória.

"O que o Ocidente acredita ser o Islã é apenas a pequena parte dele, a mais conservadora, a mais fechada", escreve Ali Kamel em seu livro. Em nome do cristianismo, a Igreja Católica também já cometeu barbaridades na Santa Inquisição e nas Cruzadas, e ninguém acharia que o Catolicismo é violento.

O grande problema é que esses terroristas islâmicos não têm uma pauta de negociações, como os separatistas bascos ou os palestinos. Esses extremistas querem simplesmente destruir a civilização Ocidental, porque acham que vivemos todos em pecado. Possivelmente nunca entenderemos por completo o que se passava na mente perturbada do atirador de Realengo. Mas o livro de Ali Kamel ajuda a entender a diferença entre islamismo e terrorismo.


André Hees é jornalista
ahees@redegazeta.com.br

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